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ë A biblioteca e os seus públicos. Uma proposta interpretativa

segunda-feira, 18 de agosto de 2008
"A produção sociológica sobre as bibliotecas públicas portuguesas avolumou-se nos últimos anos. Várias dimensões de problematização têm sido exploradas, seja pelo lado da reflexão sobre o seu papel social e cultural e serviços associados, seja pela discussão das suas potencialidades como esfera pública contemporânea, seja ainda pela vertente de caracterização dos públicos que as frequentam e das actividades que nelas têm lugar. Já plenamente sedimentada em termos institucionais e integrada nos territórios físicos e simbólicos onde se inserem os múltiplos pêlos que a constituem, a Rede Nacional de Bibliotecas Públicas (RNBP), nas suas implicações sociais e culturais, assume hoje uma visibilidade forte e que tem vindo a suscitar o interesse dos sociólogos da cultura, interesse já traduzido num conjunto de trabalhos de índole variada e a propósito dos quais se pode falar, com alguma propriedade, da existência de conhecimento adquirido sobre as significações sociológicas das bibliotecas em Portugal. Muito há ainda, contudo, por compreender e o presente trabalho insere-se nessa recente linha de investigação com vários objectivos: recuperar, através de um estudo de caso, modelos analíticos utilizados a propósito de públicos da cultura, adaptando-os a uma perspectivação das bibliotecas, explorar alguns questionamentos suplementares e esboçar algumas propostas interpretativas.

Assim, o ponto de vista aqui adoptado c devedor de um conjunto de problemáticas teóricas que podem ser recuperadas com vantagem numa abordagem à realidade empírica da RNBP: as discussões em torno das lógicas de distinção e heterogeneidade dos consumos e práticas culturais e dos processos sociais de selectividade e diversificação que subjazem à composição dos públicos da cultura; as questões relativas às definições, perfis e comportamentos desses públicos; as apreciações do papel das bibliotecas públicas como agentes de "democratização cultural", papel indissociável da sua natureza multidimensional d e esfera pública.


Procura-se aqui sobretudo, e recorrendo a um estudo de casa, compreender as relações estabelecidas entre os indivíduos e a biblioteca, a partir, da hipótese genérica de partida de que essas relações são de duplo sentido, complexas e negociadas entre os vários agentes em presença. Tenta-se, naturalmente dentro dos limites de um determinado campo de pertinência analítica, elaborar algumas interpretações sociológicas suscitadas pela identificação dos públicos de uma biblioteca específica, com a ajuda de um modelo de análise com várias dimensões, que articula estruturas, disposições, contextos e práticas, e de uma investigação empírica prosseguida através da mobilização de um conjunto variado de métodos e técnicas de recolha de informação. Trata-se, portanto, de um estudo de caso, mas que não deixa por isso de remeter para universos sociais mais amplos.

A exploração analítica levada a cabo ajudará também a ilustrar como se processa, num contexto específico, a operacionalização das premissas básicas de funcionamento das bibliotecas públicas portuguesas, nomeadamente no respeitante aos resultados dessa concretização, tal como eles são captáveis ao nível da composição social dos utilizadores e das modalidades de utilização postas em prática. Interessa notar ainda que foram seleccionadas para apresentação neste artigo apenas algumas das várias dimensões de análise que fizeram parte da investigação. Trata-se por isso de um produto inevitavelmente provisório, mas também muito parcelar. Visa apenas apresentar sumariamente uma proposta de interpretação suscitada por um conjunto alargado de materiais empíricos cuja apresentação não pode ser aqui feita.

Um modelo de análise da biblioteca e dos seus públicos

Quem são os utilizadores da Biblioteca Municipal José Saramago (BMJS)? Em que circunstâncias a frequentam? Como é que a utilizam? No fundo, como se relacionam esses indivíduos com a biblioteca? Tratava-se, à partida, de proceder à reunião de um conjunto de elementos empíricos que permitissem esboçar uma interpretação sociológica dos utilizadores da biblioteca, seus perfis sociais e suas práticas de utilização do equipamento.


Procedendo a uma afinação terminológica das perguntas iniciais, podem formular-se assim os questionamentos básicos que guiaram a investigação:

- quais são as características sóciodemográficas, socioeducacionais e socioprofissionais dos utilizadores da biblioteca? Que perfis sociais e segmentações se reconhecem? (Quem utiliza a biblioteca?)

- que práticas são identificáveis em termos de frequência do equipamento? E no que diz respeito a apropriação dos seus espaços, serviços, colecções e su portes de informação? De igual maneira, que perfis de utilização e fraccionamentes se podem surpreender? (Como é utilizada a biblioteca?)

- como se reportam as práticas de utilização, por intermédio dos sistemas de disposições incorporados pelos agentes, às características sociais? (Quem utiliza o quê e como na biblioteca?)

- que representações e valorações simbólicas constroem os indivíduos a propósito da biblioteca?

Estas questões podem ser vistas como os fundamentos dos vários eixos de problematização cujo entrecruzamento constitui o modelo analítico adoptado (figura 1), que tentarei agora apresentar de forma sintética. Esse quadro interpretativo procura operacionalizar as discussões teóricas em torno dos públicos da cultura, adaptando-as à realidade específica de uma biblioteca da RNBP; estrutura-se em torno de dois eixos e três níveis analíticos que procuram articular estruturas, disposições, contextos e práticas.

Retomando as propostas de Bourdieu (1979, 1998, 2002) acerca das articulações entre posições, disposições e tomadas de posição, no primeiro eixo analítico são identificadas as coordenadas dos indivíduos no espaço social, pela consideração dos seus capitais económicos e escolares, e constroem-se conjuntos de categorias sociodemográficas, socioprofissionais e socioeducacionais que traduzem essas posições. O volume e estrutura dos recursos de que os indivíduos dispõem, reportáveis à origem familiar, à posição actual e à trajectória biográfica, são determinantes na definição das suas condições sociais de existência, nas experiências que vivem e nas socializações que sofrem, o que resulta na incorporação provável de formas de pensar e maneiras de agir constitutivas de sistemas de disposições estruturados. As práticas culturais dos indivíduos aparecem assim tendencialmente associadas a esses habitus. Procura-se, neste eixo de questionamento interpretativo, medir pertenças objectivas e disposições prováveis, sem postular a existência de relações directas entre estruturas e práticas nem a existência de habitus unificados e coerentes (Lahire, 2002, 2003, 2004).

O que a identificação de um conjunto de características sociais estruturantes das subjectividades permite é, por um lado, dar uma imagem abrangente dos frequentadores da biblioteca, permitindo aferir probabilidades diferenciais de acesso[...]".


SLG – Biblioteca Pública Regional

RODRIGUES, Eduardo Alexandre-A biblioteca e os seus públicos. Uma proposta interpretativa. « Rev. Sociologia, Problemas e Práticas. ISSN 0875-6529. N. ° 53, p. 135-157.